domingo, 25 de maio de 2014

Inquisição e as bruxas más





Um dos grandes argumentos da dita "comunidade neo pagã" atual para a onda de ódio cego pelo cristianismo, seja ele da forma que for, é a Santa Inquisição que ocorreu em dois momentos distintos da história: na Contra Reforma da Igreja Católica e na Idade Média. Até hoje, muitas das pessoas que usam dessa premissa para pregar raiva e ódio a religiões bíblicas não faz idéia de como se dava exatamente esse processo e muito menos quem realmente morreu nessa caçada. Vamos primeiramente falar um pouco sobre os dois momentos da Inquisição.

Idade Média - Na Era Trevas, era considerado heresia todo e qualquer tipo de atividade que se baseava nas religiões e nos deuses dos povos que foram conquistados. Interessante saber que a primeira coisa que você faz quando domina uma civilização é destruir seus valores culturais a fim de subjugá-los aos seus valores e assim mantê-los sob total controle. Ao contrário do que se pensa, nessa época a ICAR se tornou uma potência política e militar de caráter expansionista, assim como Roma o era em tempos de outrora. Qualquer povo com essa base faria EXATAMENTE o mesmo, a prova cabal disso eram os Vikings que pilhavam, saqueavam, estupravam e matavam todos os povos que dominavam a fim de destruir completamente qualquer foco de revolta contra sua invasão que pudesse haver. Então, ao culparmos a ICAR pela morte de milhares de inocentes, somos obrigados a culpar também todo e qualquer povo que tenha pisado e condenado as crenças alheias em prol de sua soberania. Fatos interessantes sobre a inquisição nessa época: A maior parte das acusações de bruxaria na verdade era falsas. Era normal você ser acusado de bruxaria caso pisasse no calo de quem não devia, era sua palavra contra a de alguém influente ou rico. Outro motivo para a acusação era o lucro que alguns conventos perdiam para moças que faziam os mesmos remédios que as freiras (é...pra quem não sabe, freiras também faziam remédios e etc. com a diferença de que esses eram comercializados) vendiam para algumas vilas. Se você fizesse igual ou não passasse sua receita e começasse a causar problemas de cunho financeiro, a fogueira ou a forca estariam te esperando.
Idade Moderna - A reforma católica de 1517 contou com a mudança de diversos aspectos dentro da Igreja, muitas delas acusações feitas pelo ex padre Lutero. Uma das grandes acusações de Lutero foi a corrupção do Tribunal do Santo Ofício, o grande pesadelo da população que era injustamente acusada de bruxaria por nobres e padres que queriam tirar vantagem disso de alguma forma. Não que a reformulação do Tribunal do Santo Ofício tivesse sido algo que pudesse ser chamado de lógica, mas ao menos permitiu direito de defesa por parte do acusado e a obrigatoriedade de comprovação por parte da acusação. Como se dava isso, você acusa se vizinho de ser bruxo(a) e o bispo ou padre iria analisar três fatores: a reputação e o comportamento do réu, a reputação e o comportamento do acusador e o comportamento e reputação das testemunhas. Se ficasse provado que o acusador estava tentando incriminar um inocente, ele seria julgado e poderia perder todos os seus bens, junto com as testemunhas que mentissem. Caso contrário, o sujeito que fora acusado deveria prestar "esclarecimentos"...e essa parte da história todo mundo já conhece. A situação era a seguinte, assim como Roma colocava os cristãos no coliseu para brincarem com leões a fim de evitar uma rebelião por parte do povo, a Igreja passou a ter medo da constante perda de fiéis para as Igrejas Protestantes e para os cultos pagãos remanescentes, o que significaria a perda de Terras, ou seja, novamente por motivo financeiro e não por religião em si. Apesar do que a maior parte dos livros contam, era possível SIM ser absolvido da acusação de bruxaria. Você só precisava dizer que o diabo a havia possuído ou coisa assim e entregar sua vida a Deus, com uma declaração por escrito que ficaria pendurada na sua casa é claro. Para aqueles que eram de outras religiões, como os judeus, a situação era bem simples, conversão a religião católica e a mudança do sobrenome te salvavam da fogueira.
Agora, existiam dois fatores que pouco são falados. Se quase todos os acusados de bruxaria, não era de fato bruxos, então onde estavam os verdadeiros bruxos?
É aí que a coisa se torna interessante. O conceito de Lei Tríplice que temos é recente e não condiz em absolutamente nada com a realidade daquela época. As moças que faziam remédios, chás e ungüentos nada mais eram do que alquimistas rústicas, nem utilizavam de religião pra seus preparos e os pagãos da época sabiamente aprenderam a sincretizar seus deuses com os santos católicos, afim de evitar problemas. Mas e as bruxas?
Como todos sabemos, a bruxaria não é uma religião e sim um sistema mágico, um ofício, baseado em magia simpática (ou seja, lendas e superstições populares) mesclada com elementos religiosos diversos. Sendo assim, bruxas podiam cultuar qualquer coisa, inclusive o próprio Deus católico. As verdadeiras bruxas e bruxos estavam geralmente nos conventos e monastérios ou nas matas, que eram lugares onde teriam matéria prima para seus ritos e preparos além de sossego e distância da confusão e das doenças dos vilarejos pobres.
As bruxas de verdade raramente eram vistas pela população em geral, mas era muito conhecidas dos nobres que vez ou outra lhe pediam "favores especiais" em troca de dinheiro ou simplesmente proteção.
Existem diversas histórias e boatos na realeza inglesa sobre a Rainha Virgem Elizabeth, que apesar da idade avançada conseguia conquistar os homens mais belos da corte se utilizando de um artifício, um perfume preparado por uma bruxa que a tornava aparentemente mais bela (como se fosse o ritual de Glamour, mas em forma de perfume). O mesmo perfume que encantava matava o pretendente na manhã seguinte que ele tivesse feito amor com a Rainha.
O Papa Alexandre VI (Rodrigo Bórgia) era cliente assíduo das Brujas espanholas, a quem costumava pedir inúmeros venenos e maldições para seus inimigos e previsões para seu próprio futuro. Dizem que foi com a ajuda de uma bruxa que lhe contou todos os segredos sujos dos outros candidatos ao papado que conseguiu obter o anel do pescador. É dito que a mesma bruxa ajudou a filha do Papa, Lucrécia, a manter sua aparência jovem por muito tempo e para não engravidar do marido violento com quem casara. O filho mais moço do Papa também teve uma bruxa como amante, a mesma dizem que o ajudou a escapar antes que fosse seqüestrado por um bispo que o usaria para chantagear seu pai, usando uma fórmula que o tornava tão discreto que quase não era visto por onde passava.
Outro famoso adorador de bruxas era o Inquisidor Tomás de Torquemada. O frade dominicano era simplesmente fascinado por religiões antigas e conhecimentos ocultos, por essas e outras razões, perseguiu judeus, mulçumanos e bruxas o quanto pode. Ao contrário dos Judeus e Mulçumanos que geralmente eram mortos, as bruxas e bruxos tinham um certo alívio. Podiam ficar livres desde que o ensinassem sobre as artes e segredos do ocultismo. Como obviamente aconteceria, após ter conseguido expulsar quase os Judeus da Espanha, Torquemada enlouqueceu e se enclausurou no convento de São Tomás. O ex frade estava convencido de que estavam tentando envenená-lo e sempre andava com "Chifre de Unicórnio", um poderoso antídoto que inclusive levou várias pessoas a fogueira sob a acusação de bruxaria. O grande inquisidor espanhol morreu aparentemente de "causas naturais" e trezentos e trinta e quatro anos depois de sua morte, sua sepultura foi violada e seus ossos roubados. Alguns dizem que foram incinerados, outros dizem que apenas uma parte foi incinerada enquanto as outras simplesmente desapareceram. Para quem não sabe, "Chifre de Unicórnio" é o nome que se dá ao pó feito a partir dos chifres do Narval.

Ou seja, no fim, a Inquisição é um argumento bem falho uma vez que não tinha a ver com religião e sim com interesses individuais de clérigos e homens influentes. Outra coisa que é bom não pensarmos é que ser bruxa é ser 100% boa. Ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim, nenhuma nação é totalmente livre de seus pecados e nenhuma guerra é bacana. Numa época onde sobreviver era o mais importante, seja você bruxa ou não, a luta era necessária e você usaria todas as armas a sua disposição para ganhar, seja ela louvável ou não. O bem e o mal são necessários para o equilíbrio do mundo, então não tem como julgarmos alguém que perseguia bruxas para obter conhecimento ou bruxas que vendiam morte em troca de suas vidas ou de seus amores. Aconteceu antes, acontece agora e vai acontecer sempre que houver necessidade.

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