Um dos grandes argumentos da dita
"comunidade neo pagã" atual para a onda de ódio cego pelo
cristianismo, seja ele da forma que for, é a Santa Inquisição que ocorreu em
dois momentos distintos da história: na Contra Reforma da Igreja Católica e na
Idade Média. Até hoje, muitas das pessoas que usam dessa premissa para pregar
raiva e ódio a religiões bíblicas não faz idéia de como se dava exatamente esse
processo e muito menos quem realmente morreu nessa caçada. Vamos primeiramente falar
um pouco sobre os dois momentos da Inquisição.
Idade Média - Na Era Trevas, era
considerado heresia todo e qualquer tipo de atividade que se baseava nas
religiões e nos deuses dos povos que foram conquistados. Interessante saber que
a primeira coisa que você faz quando domina uma civilização é destruir seus
valores culturais a fim de subjugá-los aos seus valores e assim mantê-los sob
total controle. Ao contrário do que se pensa, nessa época a ICAR se tornou uma
potência política e militar de caráter expansionista, assim como Roma o era em
tempos de outrora. Qualquer povo com essa base faria EXATAMENTE o mesmo, a
prova cabal disso eram os Vikings que pilhavam, saqueavam, estupravam e matavam
todos os povos que dominavam a fim de destruir completamente qualquer foco de
revolta contra sua invasão que pudesse haver. Então, ao culparmos a ICAR pela
morte de milhares de inocentes, somos obrigados a culpar também todo e qualquer
povo que tenha pisado e condenado as crenças alheias em prol de sua soberania.
Fatos interessantes sobre a inquisição nessa época: A maior parte das acusações
de bruxaria na verdade era falsas. Era normal você ser acusado de bruxaria caso
pisasse no calo de quem não devia, era sua palavra contra a de alguém influente
ou rico. Outro motivo para a acusação era o lucro que alguns conventos perdiam
para moças que faziam os mesmos remédios que as freiras (é...pra quem não sabe,
freiras também faziam remédios e etc. com a diferença de que esses eram
comercializados) vendiam para algumas vilas. Se você fizesse igual ou não
passasse sua receita e começasse a causar problemas de cunho financeiro, a
fogueira ou a forca estariam te esperando.
Idade Moderna - A reforma
católica de 1517 contou com a mudança de diversos aspectos dentro da Igreja,
muitas delas acusações feitas pelo ex padre Lutero. Uma das grandes acusações
de Lutero foi a corrupção do Tribunal do Santo Ofício, o grande pesadelo da
população que era injustamente acusada de bruxaria por nobres e padres que
queriam tirar vantagem disso de alguma forma. Não que a reformulação do
Tribunal do Santo Ofício tivesse sido algo que pudesse ser chamado de lógica,
mas ao menos permitiu direito de defesa por parte do acusado e a
obrigatoriedade de comprovação por parte da acusação. Como se dava isso, você
acusa se vizinho de ser bruxo(a) e o bispo ou padre iria analisar três fatores:
a reputação e o comportamento do réu, a reputação e o comportamento do acusador
e o comportamento e reputação das testemunhas. Se ficasse provado que o
acusador estava tentando incriminar um inocente, ele seria julgado e poderia
perder todos os seus bens, junto com as testemunhas que mentissem. Caso
contrário, o sujeito que fora acusado deveria prestar
"esclarecimentos"...e essa parte da história todo mundo já conhece. A
situação era a seguinte, assim como Roma colocava os cristãos no coliseu para
brincarem com leões a fim de evitar uma rebelião por parte do povo, a Igreja
passou a ter medo da constante perda de fiéis para as Igrejas Protestantes e
para os cultos pagãos remanescentes, o que significaria a perda de Terras, ou
seja, novamente por motivo financeiro e não por religião em si. Apesar do que a
maior parte dos livros contam, era possível SIM ser absolvido da acusação de
bruxaria. Você só precisava dizer que o diabo a havia possuído ou coisa assim e
entregar sua vida a Deus, com uma declaração por escrito que ficaria pendurada
na sua casa é claro. Para aqueles que eram de outras religiões, como os judeus,
a situação era bem simples, conversão a religião católica e a mudança do
sobrenome te salvavam da fogueira.
Agora, existiam dois fatores que
pouco são falados. Se quase todos os acusados de bruxaria, não era de fato
bruxos, então onde estavam os verdadeiros bruxos?
É aí que a coisa se torna
interessante. O conceito de Lei Tríplice que temos é recente e não condiz em
absolutamente nada com a realidade daquela época. As moças que faziam remédios,
chás e ungüentos nada mais eram do que alquimistas rústicas, nem utilizavam de
religião pra seus preparos e os pagãos da época sabiamente aprenderam a
sincretizar seus deuses com os santos católicos, afim de evitar problemas. Mas
e as bruxas?
Como todos sabemos, a bruxaria
não é uma religião e sim um sistema mágico, um ofício, baseado em magia
simpática (ou seja, lendas e superstições populares) mesclada com elementos
religiosos diversos. Sendo assim, bruxas podiam cultuar qualquer coisa,
inclusive o próprio Deus católico. As verdadeiras bruxas e bruxos estavam
geralmente nos conventos e monastérios ou nas matas, que eram lugares onde
teriam matéria prima para seus ritos e preparos além de sossego e distância da
confusão e das doenças dos vilarejos pobres.
As bruxas de verdade raramente
eram vistas pela população em geral, mas era muito conhecidas dos nobres que
vez ou outra lhe pediam "favores especiais" em troca de dinheiro ou
simplesmente proteção.
Existem diversas histórias e
boatos na realeza inglesa sobre a Rainha Virgem Elizabeth, que apesar da idade
avançada conseguia conquistar os homens mais belos da corte se utilizando de um
artifício, um perfume preparado por uma bruxa que a tornava aparentemente mais
bela (como se fosse o ritual de Glamour, mas em forma de perfume). O mesmo
perfume que encantava matava o pretendente na manhã seguinte que ele tivesse
feito amor com a Rainha.
O Papa Alexandre VI (Rodrigo
Bórgia) era cliente assíduo das Brujas espanholas, a quem costumava pedir
inúmeros venenos e maldições para seus inimigos e previsões para seu próprio
futuro. Dizem que foi com a ajuda de uma bruxa que lhe contou todos os segredos
sujos dos outros candidatos ao papado que conseguiu obter o anel do pescador. É
dito que a mesma bruxa ajudou a filha do Papa, Lucrécia, a manter sua aparência
jovem por muito tempo e para não engravidar do marido violento com quem casara.
O filho mais moço do Papa também teve uma bruxa como amante, a mesma dizem que
o ajudou a escapar antes que fosse seqüestrado por um bispo que o usaria para
chantagear seu pai, usando uma fórmula que o tornava tão discreto que quase não
era visto por onde passava.
Outro famoso adorador de
bruxas era o Inquisidor Tomás de Torquemada. O frade dominicano era
simplesmente fascinado por religiões antigas e conhecimentos ocultos, por essas
e outras razões, perseguiu judeus, mulçumanos e bruxas o quanto pode. Ao
contrário dos Judeus e Mulçumanos que geralmente eram mortos, as bruxas e
bruxos tinham um certo alívio. Podiam ficar livres desde que o ensinassem sobre
as artes e segredos do ocultismo. Como obviamente aconteceria, após ter
conseguido expulsar quase os Judeus da Espanha, Torquemada enlouqueceu e se
enclausurou no convento de São Tomás. O ex frade estava convencido de que
estavam tentando envenená-lo e sempre andava com "Chifre de
Unicórnio", um poderoso antídoto que inclusive levou várias pessoas a fogueira
sob a acusação de bruxaria. O grande inquisidor espanhol morreu aparentemente
de "causas naturais" e trezentos e trinta e quatro anos depois de sua
morte, sua sepultura foi violada e seus ossos roubados. Alguns dizem que foram
incinerados, outros dizem que apenas uma parte foi incinerada enquanto as
outras simplesmente desapareceram. Para quem não sabe, "Chifre de
Unicórnio" é o nome que se dá ao pó feito a partir dos chifres do Narval.
Ou seja, no fim, a Inquisição
é um argumento bem falho uma vez que não tinha a ver com religião e sim com
interesses individuais de clérigos e homens influentes. Outra coisa que é bom
não pensarmos é que ser bruxa é ser 100% boa. Ninguém é totalmente bom ou
totalmente ruim, nenhuma nação é totalmente livre de seus pecados e nenhuma
guerra é bacana. Numa época onde sobreviver era o mais importante, seja você
bruxa ou não, a luta era necessária e você usaria todas as armas a sua
disposição para ganhar, seja ela louvável ou não. O bem e o mal são necessários
para o equilíbrio do mundo, então não tem como julgarmos alguém que perseguia
bruxas para obter conhecimento ou bruxas que vendiam morte em troca de suas
vidas ou de seus amores. Aconteceu antes, acontece agora e vai acontecer sempre
que houver necessidade.
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